quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Natal S.A.

Por Luis Eduardo Matta para o Digestivo Cultural

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Todo fim de ano é a mesma coisa. Chega o mês de dezembro e as nossas cidades se enchem de uma atmosfera única, radiosa, de uma efervescência colorida, onírica, mágica. As fachadas se enfeitam, as ruas ganham um fôlego renovado, o vozerio animado das pessoas em torno das vitrines sedutoras das lojas, das árvores de natal montadas nos grandes shopping centers, das prateleiras de supermercados repletas de iguarias natalinas, de frutas secas, nozes e castanhas a perus e tenders congelados; de convidativas postas de bacalhau a caríssimas cestas sortidas preparadas em vários tamanhos e preços. Tudo para celebrar a grande data do ano, a época em que todas as pessoas, felizes, risonhas e generosas, se abraçam e se emocionam, trocam presentes, perdoam umas às outras e se irmanam nesta celebração única: o dia de Natal.

Peço licença aos meus caríssimos leitores para sairmos, por alguns parágrafos, desta atmosfera ideal e ingressarmos num panorama um pouco mais próximo à realidade ou, pelo menos, a uma parte considerável da realidade de milhões de pessoas que, mesmo sem saber, são anualmente aviltadas por essa loucura doentia na qual, uma data tão especial como o Natal se converteu de algumas décadas para cá: uma festa que deveria ser, essencialmente, uma celebração simples e desprendida, transformada, à revelia, numa ode alucinada à compulsão consumista e a um pretenso hedonismo que pouco têm a ver com o que se entende como espírito natalino. Para muita gente, aliás, o mês de dezembro representa a promessa de um martírio: a época do ano em que todos se sentem obrigados a estar felizes, reunidos e em paz com suas famílias, com dinheiro de sobra em caixa para gastar em presentes vistosos e na preparação de uma ceia farta e com muita disposição para encarar a verdadeira maratona que é fazer as tão concorridas compras de Natal. É como se toda a sociedade se visse, de súbito, acometida de uma hipnose generalizada. Basta ligar a televisão que, no primeiro intervalo, começam a pipocar as avalanches de propagandas de Natal, cada loja com suas promoções "imperdíveis" e seus(as) garotos(as)-propaganda desfilando em trajes de Papai Noel (trajes, diga-se de passagem, bastante improváveis para um Natal em pleno verão).

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