A atriz pornô provoca uma atriz "globô" e sentencia que se a dita admite a existência do beijo técnico, então obviamente haverá o boquete técnico. O jovem empresário avisa que a farra está "bombando" na varanda do seu vizinho, que é engenheiro.
Uma senhora transmite para o que ela pensa ser o mundo a apuração de uma eleição aonde o campeão de votos obteve apenas 17 sufrágios. Duas jovens jornalistas trocam posts tecendo comentários sobre o vestuário e gestos dos artistas do Grammy.
Um político de esquerda ressalta a gentileza de um prefeito de direita durante mais uma das tantas festas que viraram grandes jogadas para desvio de verba pública. O garotão diz ao amigo que só segue as bonitonas, só pra ficar vendo o que elas conversam.
Num papo atravessado entre quatro ou cinco rapagões, um avisa que o sonho do outro é ser igual a um terceiro, que por sua vez adora imitar um quarto. A cinquentona informa aos seguidores que um certo político acaba de tomar água de coco; enquanto uma outra diz toda solene que um senhor poderoso acaba de lhe telefonar em pessoa.
O diretor de empresa escreve em maiúscula um cumprimento abrindo o dia para seus próprios funcionários. Alguém avisa com ar de Cid Moreira virtual que um recém-desquitado foi expulso de uma festa por assediar a própria aniversariante.
Um deputado rasga seda para uma vereadora e já anexa juízo de valor no gesto sugerindo que o Brasil inteiro saiba da maravilhosa iniciativa da amiga. Em apenas 5 minutos, um enxame de gente "do bem" filosofa contra o meio ambiente.
Outro parlamentar, narrando suas andanças atrás de votos no interior, diz que o único assunto de interesse do povo é futebol, sem nem desconfiar da insignificância da própria andança. A gatinha jura que não ficou com o paquera da colega de escola.
Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez ou mais jornalistas se plantam no computador para emitir, a cada dois segundos, notícias que todo internauta já viu nos portais, na TV ou nos jornais. Alguns chegam a reproduzir em tempo real o portal Terra.
Entre uma consulta e outra, um médico aproveita a interação virtual para publicar algumas drogas verbais. Dois candidatos a intelectuais decidem elencar os 10 melhores filmes da última quinzena e pensam ser seguidos na empreitada por milhares.
O jovem artista comunica a quem interessar possa que sua irmã engravidou e que seu cunhado está feliz, enquanto um artista velho aconselha uma universitária a ouvir com atenção os discos de Arrigo e ler os poemas de Ana Cristina Cesar.
A velha militante comunista tenta chamar a atenção da moçada para uma campanha moralizante, mas a tropa parece seguir noutra parada. O alegre publicitário clama por companhia numa balada que vai rolar e a advogada pergunta quem chupou quem no BBB.
Uma guria retuíta uma frase de auto-ajuda que ela jura ser do amigo que ela julga um cara genial. Carcomido pelo ferrugem do provincianismo, o rapaz comenta sobre um clássico em Mossoró como se falasse da decisão de uma Copa da UEFA.
Cego pelo evangelismo petista e pelo bom troco de um cargo comissionado, o filiado compõe um fake para tentar no Twitter desmoralizar uma tese assinada pela UNESCO. A amiga do político bêbado vomita em sua página notícias glamourosas do cara e uma arquiteta comenta da infra e dos decorativos de um casamento que foi no dia anterior. Todo "sou todo gênio" um professor indica o link de um site sobre tampas de garrafa.
O assessor de governo mostra gráficos que comprovam o maravilhoso quadro nos setores de Saúde, Segurança e Educação no Estado. Já a estudante de Direito concorda com o amigo bombado que deu um "chega pra lá" num flanelinha em Pirangi.
Todos os dias, por 24 horas ininterruptas, assuntos como esses são publicados por segundo na grande rede social do Twitter, que agora é chamado de "rede de informação" por ninguém menos que o cara que o inventou.
Há uma minoria publicando coisas úteis, indicando boas reportagens e textos de opinião e análise, mas a maioria esmagadora polui o ambiente com o mesmo lixo que inviabilizou o Orkut. E é esse lixo que muita gente inteligente acha que podemos chamar de jornalismo. Mas não é mesmo, #tiremopassarinhodachuva. (AM)
Esse texto foi escrito pelo jornalista Alex Medeiros em sua coluna "Portfólio", publicada no Jornal de Hoje (Natal/RN) em 02 de Fevereiro de 2010.
Uma senhora transmite para o que ela pensa ser o mundo a apuração de uma eleição aonde o campeão de votos obteve apenas 17 sufrágios. Duas jovens jornalistas trocam posts tecendo comentários sobre o vestuário e gestos dos artistas do Grammy.
Um político de esquerda ressalta a gentileza de um prefeito de direita durante mais uma das tantas festas que viraram grandes jogadas para desvio de verba pública. O garotão diz ao amigo que só segue as bonitonas, só pra ficar vendo o que elas conversam.
Num papo atravessado entre quatro ou cinco rapagões, um avisa que o sonho do outro é ser igual a um terceiro, que por sua vez adora imitar um quarto. A cinquentona informa aos seguidores que um certo político acaba de tomar água de coco; enquanto uma outra diz toda solene que um senhor poderoso acaba de lhe telefonar em pessoa.
O diretor de empresa escreve em maiúscula um cumprimento abrindo o dia para seus próprios funcionários. Alguém avisa com ar de Cid Moreira virtual que um recém-desquitado foi expulso de uma festa por assediar a própria aniversariante.
Um deputado rasga seda para uma vereadora e já anexa juízo de valor no gesto sugerindo que o Brasil inteiro saiba da maravilhosa iniciativa da amiga. Em apenas 5 minutos, um enxame de gente "do bem" filosofa contra o meio ambiente.
Outro parlamentar, narrando suas andanças atrás de votos no interior, diz que o único assunto de interesse do povo é futebol, sem nem desconfiar da insignificância da própria andança. A gatinha jura que não ficou com o paquera da colega de escola.
Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez ou mais jornalistas se plantam no computador para emitir, a cada dois segundos, notícias que todo internauta já viu nos portais, na TV ou nos jornais. Alguns chegam a reproduzir em tempo real o portal Terra.
Entre uma consulta e outra, um médico aproveita a interação virtual para publicar algumas drogas verbais. Dois candidatos a intelectuais decidem elencar os 10 melhores filmes da última quinzena e pensam ser seguidos na empreitada por milhares.
O jovem artista comunica a quem interessar possa que sua irmã engravidou e que seu cunhado está feliz, enquanto um artista velho aconselha uma universitária a ouvir com atenção os discos de Arrigo e ler os poemas de Ana Cristina Cesar.
A velha militante comunista tenta chamar a atenção da moçada para uma campanha moralizante, mas a tropa parece seguir noutra parada. O alegre publicitário clama por companhia numa balada que vai rolar e a advogada pergunta quem chupou quem no BBB.
Uma guria retuíta uma frase de auto-ajuda que ela jura ser do amigo que ela julga um cara genial. Carcomido pelo ferrugem do provincianismo, o rapaz comenta sobre um clássico em Mossoró como se falasse da decisão de uma Copa da UEFA.
Cego pelo evangelismo petista e pelo bom troco de um cargo comissionado, o filiado compõe um fake para tentar no Twitter desmoralizar uma tese assinada pela UNESCO. A amiga do político bêbado vomita em sua página notícias glamourosas do cara e uma arquiteta comenta da infra e dos decorativos de um casamento que foi no dia anterior. Todo "sou todo gênio" um professor indica o link de um site sobre tampas de garrafa.
O assessor de governo mostra gráficos que comprovam o maravilhoso quadro nos setores de Saúde, Segurança e Educação no Estado. Já a estudante de Direito concorda com o amigo bombado que deu um "chega pra lá" num flanelinha em Pirangi.
Todos os dias, por 24 horas ininterruptas, assuntos como esses são publicados por segundo na grande rede social do Twitter, que agora é chamado de "rede de informação" por ninguém menos que o cara que o inventou.
Há uma minoria publicando coisas úteis, indicando boas reportagens e textos de opinião e análise, mas a maioria esmagadora polui o ambiente com o mesmo lixo que inviabilizou o Orkut. E é esse lixo que muita gente inteligente acha que podemos chamar de jornalismo. Mas não é mesmo, #tiremopassarinhodachuva. (AM)
Esse texto foi escrito pelo jornalista Alex Medeiros em sua coluna "Portfólio", publicada no Jornal de Hoje (Natal/RN) em 02 de Fevereiro de 2010.
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