quarta-feira, 9 de junho de 2010

A sordidez do homem que chora

Enquanto as cartas de Alberto não chegam...



Quão sórdido um homem pode ser, ao querer pra si tudo o que não quer? É tênue a linha que separa a vítima do algoz. Milésimos de segundo - ou apenas alguns anos - podem fazer com que no momento precedente ao gatilho puxado por nossos dedos, estejamos com a boca no cano de uma arma; minutos antes da corda ser cortada pelas nossas mãos, estejamos com ela amarrada ao pescoço; a pedra que lançamos ao mar poderá estar amarrada em nossas pernas.

Durante os doces anos da juventude, Sebastião foi impedido de experimentar o amor. Inúmeras rejeições fizeram com que ele aprendesse a saborear o gosto amargo da recusa. Os doces anos se passaram e Sebastião foi despertando interesse em algumas mulheres. Seu corpo estava longe de ser sexualmente atraente. Não tinha dinheiro, carro, e ainda morava com os pais. Mas ele detinha o poder das palavras. As palavras, se bem utilizadas, poderia trazer-lhe qualquer mulher. Qualquer uma. Estava aí o grande, saboroso, e frio prato que ele tanto desejou. A vingança. Sebastião não perdoava. Era um serial killer de mão cheia. Nunca derramou uma gota de sangue, mas certamente contribuiu para que inúmeros lençóis solitários fossem encharcados com litros de lágrimas.

Ele seduzia aquelas mulheres. Fazia com que elas se apaixonassem por ele, e no momento seguinte, desferia o golpe de misericórdia. “Quero apenas ser seu amigo”, era a frase que ele executava com a destreza de um membro da Yakuza. Quando tudo estava resolvido, suas vítimas, após sofrerem, agora encontravam novos caminhos para viver. Sebastião as desejava de volta. E novamente se perguntava: Quão sórdido um homem pode ser, ao querer pra si tudo o que não quer? E chorava. Sebastião chorava. Diante da sordidez de seus desejos, ele chorava. E voltava a ser humano. E renascia como homem.

5 comentários:

  1. Ah, as palavras! Bendito aqueles que as tem ao seu favor. E mais feliz é aquele que as usa para o seu próprio bem.

    Cara, muuuuuuito bom!
    De todos os bons textos daqui que já li, O Melhor. Sem dúvidas.

    E Alberto? (ficando de saco cheio com minhas "cobranças" já né? xD).

    Beijo no ombro.

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  2. É o preço! Entendo muito bem esse Tião!

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  3. Rute, muito obrigado pelo elogio. Quanto ao Alberto... O sacana me fez ficar até as 3h00 da madrugada de ontem pra me mandar uma carta vagabunda, que sequer consegui finalizar... Estou esperando alguma carta que valha a pena postar. Mas fico feliz com sua cobrança.
    .
    É um preço bastante caro, né Seu Padilha? Também entendo um pouco o pobre do Sebastião. Apesar de tudo, o Nando uma vez disse a ele que o mundo era bão... Acho que ele acreditou.

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  4. Hum... conheço um Sebastião pessoalmente.
    Ele é vítima dele mesmo.

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