quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Ostra feliz não faz pérola


Justifico minha ausência com a velha e esfarrapada desculpa das férias. Isso mesmo, atualmente estou de férias da faculdade e do trabalho. Vim visitar meu pai que já fazia pouco mais de um ano que não o via. Atualmente ele mora em Rio das Ostras (RJ). Tenho aproveitado as férias pra descansar muito, e ler.

Quando estava no aeroporto a caminho do Rio de Janeiro, passei na livraria e comprei um livro. Mas esse não seria como os outros que estão empilhados aguardando a sua vez, este furou a fila. “Ostra feliz não faz pérola” de Rubem Alves é uma conversa gostosa com o velho contador de histórias, escritor, educador, psicanalista e romântico de profissão.

"A ostra para fazer uma pérola,precisa ter dentro de si um grão de areia que a faça sofrer.Sofrendo,a ostra diz para si mesma:preciso envolver essa areia pontuda q me machuca com esfera lisa q lhe tire as pontas... Ostras Felizes não fazem pérolas...Pessoas felizes não sentem a necessidade de criar. O ato criador ,seja na ciência ou na arte, surge sempre de uma dor. Não precisa que seja uma dor doída... Por vezes a dor aparece como aquela coceira que tem o nome de curiosidade. Este livro está cheio de areias pontudas que me machucaram. Para me livrar da dor, escrevi."




Quando li isso não pude resistir. Ele falava comigo.


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O livro é feito de pequenos retalhos de pensamentos sobre “Amor”, “Beleza”, “Crianças”, “Educação”, “Natureza”, “Política”, “Saúde Mental”, “Religião”, “Velhice” e “Morte”. AH! Também tem o primeiro capítulo que se chama “Caleidoscópio”, que seria um apanhado de “tudo um pouco”.


Atualmente temos conversado – e é assim que eu descrevo a leitura desse livro, como uma grande conversa na varanda da minha casa (ainda que ela não tenha varanda) – sobre “Religião”.

http://www.ptsem.edu/Publications/inspire2/7.1/images/%2768rubem%20alves.jpg

Tendo sido, quando jovem, pastor presbiteriano, e por motivos pessoais largado o pastorado. Encontro-me muitas vezes em seus pensamentos. Quando não me encontro, divirto-me apenas procurando. Temos perturbações semelhantes quanto a “Política”, “Educação”, e talvez ainda mais em “Religião” (ainda que eu tenha dificuldades em associar essa palavra a alguma coisa boa).


Hoje li um conto que gostei. E finalizarei a postagem de hoje com ele.

Viviam, num país do oriente, 5 cegos que mendigavam juntos à beira de um caminho. Eram amigos em virtude de seu infortúnio comum. Todos tinham um grande desejo. Já haviam ouvido falar de um animal extraordinário, enorme, chamado elefante. Tão maravilhoso era o dito animal que muitos afirmavam que ele era divino. Mas eles, pobres cegos, nunca haviam estado com um elefante. Ah! Como gostariam de conhecer um elefante. Aconteceu, porque Alá ouviu suas preces, que um domador de elefantes foi por aquele caminho conduzindo seu animal. Foi uma festa! A criançada gritando, homens e mulheres falando. Ouvindo tal rebuliço os cegos perguntaram: " O que está acontecendo?" "Um elefante, um elefante", responderam. Eles se encheram de alegria e pediram ao domador que os deixassem tocar o elefante, já que ver não podiam. O domador parou o animal e os cegos se aproximaram. Um deles foi pela traseira, agarrou o rabo do elefante e ficou encantado. O segundo foi pelo lado, abraçou uma perna e ficou encantado. O terceiro apalpou o lado do elefante e ficou encantado. O quarto passou as mãos nas orelhas do elefante e ficou encantado. E o último segurou a tromba e ficou encantado. Ido o elefante os cegos começaram a conversar. "Quem diria que o elefante é como uma corda!", disse o primeiro. "Corda coisa nenhuma", disse o segundo. " É como uma palmeira". "Vocês estão loucos", disse o terceiro. " O elefante é como um muro muito alto." "Vocês não são só cegos dos olhos", disse o quarto. " São também cegos da cabeça. Pois é claro que o elefante é como um ventarola." " Doidos, doidos", disse o quinto. " O elefante é como uma cobra enorme..." Por mais que conversassem eles não conseguiram chegar um acordo. Começaram a brigar. Separaram-se. E cada um deles formou uma seita religiosa diferente: a seita do deus-corda, a seita do deus palmeira, a seita do deus parede, a seita do deus ventarola, a seita do deus cobra...Assim são as religiões.
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(retirado do livro "Ostra Feliz Não Faz Pérola" - Rubem Alves)



5 comentários:

  1. Digo mais, férias da faculdade, do trabalho.. e da namorada, né Sr. Calango? oÔ

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  2. Rubem Alves é um dos escritores mais fascinantes que já li. Escolha acertadíssima. Ele é referência no que escreve porque o faz com amor, carisma e humanidade. Sempre!

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  3. Te adicionei a minha lista de blogs, espero que não se pertube ;)

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  4. nane_lima: Férias da namorada? Nem tanto... :p!
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    Yuri: Ele é um bom e velho [:p] amigo!
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    Thiagão: Ele é fascinante mesmo. Correrei atrás de mais coisas dele. O amor e o romantismo dele são invejáveis...
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    Camila: Perturbar-me? Que nada... fico lisonjeado! :D

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