quarta-feira, 22 de junho de 2011

A bem vinda



- Quanto tempo faz que a gente não se vê?

Foi assim que ela, assustadora-encantadora-surpreendente-mente, me abordou. Eu estava ali sentado na praça, pensando no que fazer da vida. Acabara de pedir demissão, não suportava aquele emprego medíocre de merda. Estava liso e todas as minhas economias foram embora na compra de um apartamento de 40 m², dividido em 432 parcelas, e que o banco havia dito que eu não tinha condições de pagar. Perdi o dinheiro, a moral, e o resto de orgulho que ainda corria nas veias salientes do braço direito. E agora eu tinha acabado de perder a minha fonte de renda.

- Desculpe, moça, mas acredito que nos nunca nos vimos antes. – Se eu já tivesse visto aqueles olhos, aquela boca, aquela... mulher antes eu certamente saberia. – Não que eu não quisesse, é claro! – Isso soou ridiculamente cafona e desesperado.

- É uma pena que você não se lembre. Eu posso ter mudado um pouco desde a última vez. Mas continuo a mesma.

Há muito tempo eu não ficava bêbado ao ponto de não me lembrar de nada. Drogas? Desde que fui pai e comecei a trabalhar que nem cigarro eu fumo. Só café. Como pode eu não me lembrar dessa mulher? Será que estou ficando com Alzheimer? Mas nem cheguei aos 30!

- Moça, talvez se você me disser o seu nome eu possa me lembrar com mais facilidade.

Ela olhou de um jeito sedutor e disse:

- Não. Você deve ser capaz de se lembrar sozinho.

Puta que pariu! Só pode ser garota de programa. Mas isso eu descubro agora!

- Você poderia descrever algum momento, alguma situação em que nos encontramos, passamos juntos, ou nos vimos?

Ela ficou pensativa. Olhou pra cima. Pôs o dedo na boca. Riu de lado. Disse:

- Quando éramos criança ... – CRIANÇA? Então puta não é. Puta nunca foi criança. Deve ter sido alguma vizinha - ...você escreveu uma cartinha para aquela menina que estudava com você. Ela leu, veio falar contigo, e te deu um beijo. Lembra?

Era ela. Tá explicado. Mas ela está bem diferente. A... (como era o nome mesmo?) ... Camila (ou Carol) era ruiva, e essa linda mulher que está na minha frente é naturalmente loira. Será que os cabelos mudam de cor assim?

- Então você é a Camila... ou seria Carol?

- Não. Eu só estava com você quando você recebeu aquele beijo.

Meu Deus! Quem é essa? Devemos ter estudado na mesma escola.

- Não me lembro de estar com ninguém nesse dia.

- Vou te dar mais algumas chances. Quando você ficou com a Patrícia, naquela festa na casa do Mateus, eu estava lá. Quando você começou a namorar a Luana eu também estava lá. Até quando você passou no vestibular para jornalismo eu estava com você.

Eu só posso estar muito doente. Não me lembro dessa linda mulher em nenhum desses momentos da minha vida. Só pode ser alguma brincadeira do pessoal do trabalho.

- Ok. Já entendi tudo. Foi o pessoal da empresa que mandou você aqui pra tentar me animar, não foi? Pode falar a verdade. Aposto que o Tiago está por trás disso. PODEM APARECER, PESSOAL. JÁ SAQUEI TUDO! – Gritei para o nada.

Ela riu de maneira sutil, marcante e sincera.

- A última vez que nos vimos você tinha acabado de ser pai. Depois o tempo foi passando e os nossos encontros passaram a ser cada vez mais raros. Até que simplesmente eu sumi da sua vida. – Ela falava de um jeito sutil, nostálgico e triste.

- Me desculpe. Me desculpe mesmo. Estou me sentindo péssimo por não conseguir me lembrar de uma mulher tão linda como você. E você fez parte de todos os momentos mais marcantes da minha vida...

Nesse momento ela se levantou. Seu vestido era lindo e azul. Suas pernas, seu corpo, seu rosto, sou sorriso, seu olhar, seu cabelo... Tudo era perfeitamente lindo. Lindo demais para ser uma mulher de verdade.

- Eu sei o quanto aquele trabalho te fazia infeliz e soube que você havia pedido demissão. Passei só pra te dar um “oi” e... – Ela se inclinou em minha direção. Seus lábios pareciam gritar por mim. Meu Deus, que mulher é essa. Ela me beijou. Beijamos-nos. - ...te dar esse beijo. Espero de agora em diante poder te ver mais vezes.

Ela saiu. Foi embora. Sumiu. Eu não conseguia me mexer. Nada daquilo parecia ser real...

- LEMBREI! Agora eu sei quem era aquela mulher. Meu Deus, há tempos que eu não a via. Ela está mais linda e sedutora que nunca.

Corri desesperado em todas as direções atrás daquela mulher. Não podia deixar que ela partisse assim novamente. Infelizmente não consegui encontrá-la, mas agora sei que ela não me deixou. Ela nunca me deixou.

Aquela que já fora uma linda menininha que brincava comigo no parquinho do colégio, uma garota atraente que me acompanhava nas festas da faculdade, hoje é uma mulher linda, sedutora, de vestido azul e que me beijou a boca.

Seja bem vinda de volta, Felicidade, e beije-me sempre que quiser!

6 comentários:

  1. Nhaaim. Como senti falta e como adoro seus testículos! hahahaha
    Lindoooo!!!

    ResponderExcluir
  2. Arrepia e fascina.

    Muito bom, Alex. Muito bom.

    ResponderExcluir
  3. E não é que a felicidade também se apresenta nas mais variadas formas!?

    =B

    ResponderExcluir
  4. A felicidade não só tem nome de mulher, tem corpo - e que corpo! de mulher.

    ResponderExcluir
  5. Accioly Neto escreveu o que Seu Fagner já cantou:

    "... Saudade já tem nome de mulher..."

    E quem disse que a Felicidade também não o teria?
    .
    Obrigado pelo comentário de todos vocês! ;)

    ResponderExcluir
  6. que coisa feliz! fiquei feliz!

    ResponderExcluir